Recordando a vida “on tour” com Robbie Page


Robbie Page, nascido em 1966, em Wollongong (NSW, Austrália), não só foi um dos mais inspiradores surfistas de sempre como também um dos mais divertidos e emblemáticos competidores do World Tour.

O surfista australiano começou a surfar aos 9 anos e ao longo dos tempos conseguiu feitos inesquecíveis. No meio de uma carreira recheada de títulos e vitórias, destacam-se uma vitória no Pipe Masters em 1988, um título mundial da ISA em 2008 e ainda o troféu de Rookie of the Year da Triple Crown.

Foi ainda o primeiro surfista australiano goofy footer a surfar em Mavericks. Mais recentemente conquistou cinco títulos na divisão Master do Campeonato Indígena que tem lugar na Austrália, de 2013 a 2017.

A vida no Tour, após a vitória em Pipe, corria bem, mas o ano de 1992 foi duro para Robbie. O australiano, na altura com 26 anos, gostava de viver a vida (com tudo a que tinha direito) e raramente recusava uma boa festa.

Vinho, drogas e noitadas faziam parte da rotina de muitos surfistas na altura. Especialmente australianos. É preciso entender que naquela época não existiam mentores e/ou treinadores, sendo que os surfistas estavam mais expostos e sujeitos a todo o tipo de tentações.

Era também uma altura em que o clima de festa era socialmente aceite… por vezes, mesmo até cair para o lado. Ao ponto de, na manhã seguinte, muitos competidores entrarem para as suas baterias ainda meio zonzos e a espalhar pelo ar um cheiro a álcool.

Ora, certa vez, depois de uma perna competitiva em Espanha profícua em “fiesta”, Robbie rumou ao Japão para competir no Marui Pro em Chiba. No entanto, ao aterrar em Tóquio, foi retido pelos serviços aduaneiros que numa busca encontraram alguns ácidos entre os seus pertences. Sobras da incursão europeia que o australiano já não se lembrava ter na sua posse, mas cuja brincadeira (ou esquecimento) custou 66 dias de encarceramento numa prisão japonesa. Sendo que os primeiros 30 dias foram passados em regime de solitária.

O campeonato decorria a meras horas de distância e, embora Robbie estivesse fora do elenco, era dado como certo no draw da competição. Na verdade parece que ninguém da ASP se mostrou interessado, prestou auxílio ou providenciou aconselhamento legal. Mais tarde, Page foi libertado e deportado com a direção da ASP a impor uma suspensão de 18 meses das suas competições devido à posse de substâncias ilícitas. Foi a machadada final.

A sentença foi como uma espécie de morte virtual da sua carreira, porém… quatro meses volvidos, numa reviravolta sem precedente, Robbie viajou para França para se reunir com o seu patrocinador, na altura a Oxbow Clothing, e acabou por se ver envolvido num romance com a neta do presidente francês da altura, François Mitterrand.

Para além das 22 temporadas havaianas e da década que passou a correr o circuito profissional, sempre a alcançar a condição de top 30 mundial, Robbie Page passou ainda 12 anos a viver e a surfar as ondas gaulesas.

Falamos de uma geração de surfistas que gostavam de se divertir, à grande, que nunca recusavam uma festa e não se importavam de fazer uma direta para a competição do dia seguinte.

Uma geração que acabou por ser substituída, a pouco e pouco, por um grupo de novos surfistas norte-americanos. Claramente mais sérios, profissionais e igualmente talentosos, Kelly Slater, Rob Machado, Ross Williams, Shane Dorian, Kalani Robb, Conan Hayes e Chris Malloy foram pondo um fim ao domínio australiano no tour. 

Eles acabariam por ficar conhecidos como a geração ‘Momentum’ – saga de vídeos que marcou fortemente a comunidade do surf naquela época. xxx

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