Francisco Rodrigues fala do arranque da Liga


Desafio, responsabilidade, compromisso, alívio e coração cheio. Sentimentos expressos pelo presidente da ANS – Associação Nacional de Surfistas, Francisco Rodrigues, no balanço da primeira etapa na Figueira da Foz, a primeira liga de surf nacional a arrancar em 2020, num mundo marcado pela crise da pandemia de COVID-19.

Aos 37 anos, e presidente da entidade organizadora da Liga, a Associação Nacional de Surfistas desde 2011, Francisco Rodrigues dá um retrato, em pinceladas largas, do penoso processo de “reprogramação” de uma Liga que estava anunciada desde meados de fevereiro, um mês antes da eclosão da pandemia.

“Fizemos a apresentação da Liga MEO 2020 e estávamos absolutamente preparados para arrancar na segunda metade de março. Já estávamos, inclusive, na fase de preparação ‘a sério’ para a primeira etapa”, começa por lembrar.

Apesar de estar já em modo de prontidão para o início da edição daquela que é unanimemente considerada uma das melhores ligas nacionais do surf mundial, aos primeiros sinais da pandemia, a organização preparou-se para o pior, pelo que, assume Francisco Rodrigues, “quando o estado de emergência foi decretado, já tínhamos andado para trás.”

Quando tocou a buzina final, toda a gente que esteve a trabalhar e tornou este campeonato possível estava contente. Aliviados e de coração cheio, pois terminámos com altas ondas e dever cumprido a favor do surf português.

Foi o início de um jogo de espera que durou meses. “Suspendemos tudo, sempre a reprogramar. À medida que o tempo foi correndo, a lógica foi sempre de reprogramação e nunca de perspectiva de anulação”, explica o presidente da ANS.

Os primeiros sinais de alívio chegaram com o regresso do surf de lazer, prémio para uma campanha conjunta da Federação Portuguesa de Surf, ANS e World Surf League e do almejado planalto alcançado na pandemia, que permitiu o alívio das medidas de confinamento.

“Em maio, com a autorização das competições de modalidades individuais sem contacto físico, articulámos com a FPS a estruturação de um plano de contingência que ditava que todas as zonas coletivas, nomeadamente, espaços de atletas e convidados e iniciativas sociais laterais estavam anuladas. E quaisquer interações com o público, obviamente, também”, conta Francisco Rodrigues.

O palco da competição viu-se então reduzido ao seu esqueleto essencial: zona de trabalho para estruturas técnicas e de transmissão da prova, esta agora ainda mais importante, e o mar, onde se desenrola a competição.

Houve lugar a um rigoroso plano de contingência debatido entre todas as partes envolvidas e adaptado para a realidade da Liga, com acompanhamento de especialistas de saúde pública e validação do Instituto Português do Desporto e Juventude.

Suspendemos tudo, sempre a reprogramar. À medida que o tempo foi correndo, a lógica foi sempre de reprogramação e nunca de perspectiva de anulação.

Em paralelo, os surfistas receberam um manual de recomendações, desde deslocações, alojamento, comportamento na praia. Staff e surfistas receberam e-mails separados com recomendações e para o qual todos tiveram de confirmar conhecimento.

“Deixámos de ter um evento onde a competição era o pilar principal para termos unicamente um evento de competição de surf”, resume o líder da ANS.

Francisco Rodrigues não deixa de agradecer a compreensão dos patrocinadores que “aceitaram uma proposta de valor diferente, em que o contacto com o público e consumidores se viu transferido para os meios digitais, deixando cair a parcela da praia.”

O produto final, esse, foi o melhor possível. Depois de um início em que as condições, típicas de um preâmbulo de verão, estiveram longe de ser as melhores, o Allianz Figueira Pro acabou com grandes ondas, excelente nível de surf e Frederico Morais e Teresa Bonvalot como justos vencedores.

“Tivemos muitos contratempos: a maré, a ondulação que tardou a entrar e outras várias incidências. Tudo elevou este desafio ao expoente máximo e foi, se não a mais difícil, uma das mais difíceis de sempre de gerir”, confessa.

(…) terminámos com altas ondas e dever cumprido a favor do surf português, mas também do Desporto nacional por termos sido a primeira Liga de surf no mundo a conseguir arrancar.

E também os surfistas merecem uma palavra: “Os surfistas estavam impedidos de fazer a vida profissional há meses e tiveram aqui a oportunidade de recuperarem a vida que escolheram. Frederico Morais é o expoente máximo disto, impedido de competir no Mundial, abraçou com entusiasmo esta oportunidade de voltar a vestir licra. E mesmo que não seja a Liga MEO o seu principal objetivo competitivo para esta época, mostrou todo o seu empenho e desejo de vencer.”

Para Francisco Rodrigues, a sua equipa e todos os envolvidos, o alívio foi mais que muito. “Há aqui uma parte de sucesso que devemos à FPS, município da Figueira da Foz e capitania. Todos disseram presente quando foi necessário. Tínhamos o ‘quando’ e apenas quiseram saber o ‘como’ podiam ajudar. Quando tocou a buzina final, toda a gente que esteve a trabalhar e tornou este campeonato possível estava contente. Aliviados e de coração cheio, pois terminámos com altas ondas e dever cumprido a favor do surf português, mas também do Desporto nacional por termos sido a primeira Liga de surf no mundo a conseguir arrancar.” xxx

Fotografias: Jorge Matreno/ANS
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